As relações entre pais e filhos não têm meios-termos: ou são saudáveis ou são doentias e é sobre isso que este breve estudo tratará.
Obviamente, existem filhos crianças, adolescentes/jovens e adultos, mas, também existem pais que ainda não se posicionam como adultos em seu sistema familiar e isso prejudica severamente seus filhos e outros descendentes.
Quando os filhos nascem, são fortemente atraídos para ocuparem lugares ou funções na família, principalmente, as que dizem respeito ao pai e à mãe.
Dependendo da função inconsciente que ocupa na sua família, sobretudo em relação aos seus pais, o filho fica preso e não consegue ir para a vida, falta-lhe um impulso que deveria ser dado pelo seu sistema familiar e o que está ocorrendo é o contrário, a família de origem suga sua força e o mantém sem iniciativa e incapaz de ir como se estivesse sendo puxado por um ímã.
Por exemplo, filhos que fazem a função ou o papel dos pais da sua mãe ou do seu pai ou mesmo para ambos, está olhando para o passado e, a menos que não saia desse lugar na família de origem, não avançará para realizar a própria vida.
Outro exemplo, filhos que ocupam lugares vazios na família, por conta da morte de irmãos mais velhos, de pessoas ligadas ao pai ou à mãe por diversas razões e que já não estão presentes, a lacuna que existe entre os pais também pode ser preenchida pelos filhos que são inconscientemente atraídos a ficarem nesse lugar. Filhos que estão fora da própria função de filhos não conseguem viver seus próprios scripts ou roteiros, vivem os de outras pessoas e isso os adoecem em vários aspectos de suas vidas.
Como se vê, trata-se de um triângulo dramático, formado pelos filhos, pela mãe e pelo pai, alternando posições entre eles no campo da família e impedindo-os de desempenharem suas verdadeiras funções no sistema familiar. Observe que estamos tratando das funções energéticas de cada um na família e não das pessoas em si que, em algum momento, podem ajudar e receber ajuda, aqui é a desordem total, o emaranhamento entre pais e filhos, é o relacionamento doentio.
A mãe, o pai e o filho podem formar triângulos dramáticos dos mais variados tipos e funções equivocadas, o que dá origem a múltiplos problemas para todos, porém, os filhos que, por função principal no seu sistema familiar, deveriam olhar para o futuro, a vida, são muitos prejudicados. E porquê isso acontece? Por conta do amor cego e inconsciente dos filhos que, sem se darem conta, ocupam lugares ou funções na família que não são da sua competência e sim dos pais. Uma observação: para que esses triângulos dramáticos e doentios não se formem não é necessário estudo ou conhecimento prévio no nível mais intelectual, isso acontece devido aos emaranhamentos que começam em algum momento da história familiar, por motivos ainda mais diversos e que se repetem até que alguém chega ao limite, não suporta mais o sofrimento e procura solução. Quando encontra a solução, ajuda a colocar toda a sua família em ordem.
Pais que têm atitudes de crianças no sistema familiar, sempre querendo só receber, prendem seus filhos na função de cuidar deles; e filhos que passam a vida cuidando dos pais não estão cumprindo sua verdadeira função que é ir para a frente, para o futuro, para a vida. Significa abandonar os pais? Não, jamais. Cuidar dos pais quando eles precisam é um privilégio e uma bênção, o que acontece é que pais infantis emitem sinais de que precisam dos filhos o tempo todo, portanto, como esse filho ou filha teria impulso para ser e fazer o que quer?
É preciso esclarecer também que para cada história familiar em que os triângulos dramáticos acontecem existem soluções sob medida, o que resolve para uma família não resolve para outra, necessariamente, “cada caso é um caso”, não é isso que dizemos? É preciso destacar também que é importante ter olhos preparados para enxergar esses movimentos ocultos na vida familiar que envolvem antepassados, aspectos espirituais e segredos de família. Por outro lado, somente ficar sabendo do que se trata ou enxergar o problema em sua totalidade não ajuda e nem cura, é preciso a ação terapêutica, curativa e solucionadora do profissional e de quem busca ajuda. Digo sempre para meus pacientes que saber das coisas não resolve nossos problemas, é preciso saber o que fazer.
O tratamento deve incluir três partes: a primeira é localizar o triângulo dramático inconsciente ou não entre o pai, a mãe e os filhos biológicos; depois, trazer à consciência individual esse emaranhamento e, a terceira parte é a pessoa agir na vida prática. De nada adianta receber um tratamento e uma solução e voltar a pensar, sentir e agir igual fazia antes.
Cada pessoa do grupo familiar tem sua função e isso é dado pela ordem de nascimento, é algo vindo da natureza, portanto, inquestionável e no que diz respeito às relações entre pais e filhos não têm meios-termos: ou são saudáveis ou são doentias. A ótima notícia é que existe solução e cura para quem busca com a postura adequada. (Aluísio Alves: Psicanalista, Terapeuta Sistêmico, Pós-Doutorando em Educação, Doutor em Educação Médica, Hipnose Clínica, Mentoria de Líderes e Equipes).