É muito grande a quantidade de gente que adoece por conta da ingratidão dos outros. O que está por trás desse mal estar que invade a vida de tantas pessoas?

Uma resposta automática seria: “fazer as coisas sem esperar gratidão de ninguém”. Daria certo se ficasse só no plano do pensamento e da imaginação, afinal, muitos fazem mesmo as coisas para os outros sem esperar agradecimento ou reconhecimento. Existem pessoas assim, mas, mesmo sendo uma verdade, o mal estar aparece da mesma forma. E aí, como resolver?

Tenho aprendido com os clientes e pacientes no consultório, individualmente, e nos grupos terapêuticos e de crescimento integral, que a maioria das pessoas – com toda a boa-vontade que têm e sendo amorosas como são – não sabem ajudar. Pior: para a maior parte das pessoas, ajudar tem se transformado em muitos sofrimentos materiais, mentais, emocionais e espirituais. De maneira nenhuma estou afirmando que devemos parar de ajudar, ao contrário, precisamos de mais solidariedade e caridade de uns para com os outros. Todos podem ajudar e todos precisamos de algum tipo de ajuda nesta vida.

Ajudar  e receber ajuda é uma arte só e tem leis que atuam nas relações com as pessoas e com a vida. Vamos tratar disso aqui neste nosso estudo.

Antes, veja alguns exemplos de ajudas dentro da própria família e que geram muitos problemas: um parente ajudou outro em determinado momento, há muitos anos, mas, cobra isso direta e indiretamente até o presente. Conhece algo semelhante? Para piorar, se quem recebeu ajuda progrediu e venceu na vida, o “cobrador permanente” se arvora como responsável pelo sucesso do outro e não fica satisfeito com a gratidão manifestada… quer mais e mais. Isso provoca o distanciamento natural entre esses familiares e de outros que tomam partido, a família perde a força de coesão.

Outro exemplo é o caso do parente que teve dificuldades, recebeu ajuda e, depois, exige que a ajuda seja vitalícia, como se fosse uma obrigação da família ou de alguns membros continuarem bancando sua vida material e social… o tempo passa e essa exigência continua e  leva à naturalização da ajuda, como se fosse um tipo de “direito adquirido”. É próprio de quem não sabe receber ajuda e demonstra uma raiva destrutiva em relação aos bens sucedidos da própria família.

Na relação entre pais e filhos também pode existir um problema que é a postura equivocada da mãe ou do pai ou de ambos que apontam um ou outro filho como se tivesse recebido muita ajuda, ou seja, uma dívida que não acaba nunca. Pais que agem assim não souberam dar, estão adoecidos na alma. É muito comum pais que têm essa atitude de pesar a conta contra alguns filhos, jogarem os filhos uns contra os outros, criando um conflito permanente e desunião. Pais que agem assim costumam receber de forma desrespeitosa eventuais ajudas dos filhos e não demonstram  gratidão  porque, no fundo, para eles, tudo o que vem de alguns filhos não passa de obrigação.

Como ficou demonstrado, antes de pensar em como lidar com a gratidão em relação aos amigos, conhecidos,  colegas, vizinhos e o mundo inteiro, é bom descobrir quais matrizes mentais foram adquiridas na convivência familiar porque isso é mentalmente padronizado e pode estar sendo reproduzido inconscientemente. Atendi e atendo muitas pessoas que nem conseguem prosperidade material, mesmo trabalhando tanto, porque carregam pesadas cargas e outros problemas advindos das famílias de origem no que se refere a ajudas, cobranças e ingratidão.

Existe tratamento e solução para soltar a pessoa para a alegria de viver e liberá-la para desfrutar, mas, é preciso que cada um queira melhorar e agir.

Lidar com a ingratidão dos outros deve ser resultado da compreensão de que é preciso sair da posição psicológica de se colocar como grande demais e capaz de abraçar todos os problemas que as pessoas trazem. Quem abre os braços para ajudar a todos e não tem para si, está construindo um castelo de areia que vai desabar em algum momento… Quem se coloca como coitado, vítima e fraco está provocando no outro, a quem pede ajuda constantemente, um sentimento de culpa pelo que é e pelo que tem, materialmente ou não. Resumindo: ninguém é coitado e incapaz, embora todos possamos precisar de ajuda para nos recolocar nos trilhos da vida; ninguém é poderoso para se colocar como capaz de ajudar a todos. É demonstração de sabedoria admitir que não conseguimos ajudar a todos. Isso é equilíbrio e respeito às leis da vida e que nos permitem ajudar ou receber ajuda sem sofrer pelas ideias e sentimentos que acabam chegando  para quem recebe e para quem presta algum tipo de ajuda. (Aluísio Alves: Psicanalista, Terapeuta Sistêmico, Pós-Doutorando em Educação, Doutor em Educação Médica, Hipnose Clínica, Mentoria de Líderes e Equipes).

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