Ser reconhecido como pessoa é uma das mais elevadas necessidades e quando não nos sentimos vistos e incluídos apenas por estar no mundo e ser quem somos, abrem-se as feridas internas e as dores da alma parecem não ter fim.
Por viver em um mundo cada vez mais marcado pelo individualismo, pela banalização do respeito e do sagrado, cada pessoa vê aquilo que o etólogo Karl Lorenz chamou de “a destruição do espírito humano” se tornar uma triste realidade.
A falta do reconhecimento que aqui significa dar um lugar ao semelhante apenas porque ele é semelhante gera muitos adoecimentos e dores na alma e isso se manifesta por meio da agressividade e da violência física e psicológica, da violência contra si, das dificuldades com a autoestima ou amor próprio, da constante tensão entre o ser e o ter, da descrença e desesperança do ser humano na grande família que é a humanidade.
Vejo com muita preocupação o aumento de posts que dizem que não se acredita mais no ser humano, que a humanidade não deu certo e outras afirmações desse gênero. Essa frustração com a sociedade, com o comportamento das demais pessoas aumenta a sensação de solidão que é um dos maiores buracos na alma, portanto, dores e sofrimentos se avolumam pela sensação de que a vida foi um erro e que nada mais merece consideração.
A velocidade com que o pessimismo e a descrença viralizam causam verdadeiros estragos no coração das pessoas. Precisamos reagir de forma amorosa e sem gerar mais conflitos com esses contravalores e às fake news que tentam convencer as massas de que tudo é horroroso e que não é possível mais viver com qualidade, felicidade, saúde e paz. É uma falsa realidade que pode capturar muitas pessoas e levá-las ao vazio existencial, a uma espécie de inferno astral em que a primeira vitima é quem acolhe esse tipo de pseudo-verdade.
Na maioria das vezes, podemos inferir, quando alguém passa a acreditar na desgraça espalhada nas redes e no pessimismo que leva ao niilismo ou ao vazio da vontade de viver, é porque sua criança ferida volta a conduzir sua vida, ou seja, a criança que não se sentiu reconhecida, que se sentiu injustiçada pela mãe ou pelo pai ou por outros integrantes da família, volta a sentir as dores da alma que sentiu quando as coisas ruins aconteceram na sua infância. Entretanto, tudo isso pode ser uma construção mental, as influências dos pensamentos que contam uma história com início, meio e fim… ou seja, os pensamentos têm a habilidade de criar justificativas e histórias para algum tipo de incômodo que o adulto está vivendo em determinado momento.
E mesmo que essas coisas ruins tenham acontecido de fato, existe cura para tudo isso e é preciso buscar!
Isso pode acontecer na relação a dois em que um ou outro parceiro se sente ignorado e não reconhecido pelo que é, como teria sido na sua infância; pode ser no tratamento médico ou na terapia em que o paciente exige como criança que o profissional lhe passe a mão na cabeça e lhe prometa que a dor vai desaparecer num passe de mágica, o que não é verdade, afinal, a dor está ali e é uma realidade a ser vivida para que a pessoa supere a si mesma e dê novos significados para sua vida e não seria retirando com uma “varinha de condão” seus problemas é que a pessoa cresceria… de novo, a criança ferida entra em cena e dá birra, se revolta e acusa o mundo inteiro pela dor que sente na alma… aí, qualquer daquelas frases derrotistas e pessimistas a respeito da humanidade passam a ser lemas e slogans de vida para muitas crianças feridas…
As fugas também são muito comuns entre os adultos quando suas crianças feridas emergem nos momentos desafiadores da vida. Fugir por meio do sono excessivo, por meio das compulsões por bebidas, cigarros e alimentos, pela revolta e por algo que tenho descoberto como muito grave e que chamo de cauterização da mente. O que é isso? É quando a pessoa está com a mente insensível para o sagrado e para o belo que estão presentes no mundo. Até as coisas da espiritualidade, os mistérios de Deus se tornam pouco eficazes para tocar os corações de quem, de tanto ler, praticar, falar sobre o sagrado, acaba por ter a mente impermeável para a ação benfazeja do amor em suas vidas. Tornam-se como seres revestidos de uma capa que não permite que a sensibilização, o otimismo responsável, a fluidez e leveza lhes toquem a alma…um vazio muito dolorido, em parte por conta disso, agridem os demais como criança dando birra. Essa cauterização da mente acaba levando a pessoa a uma banalização do sagrado, a uma naturalização do que é espiritual, portanto, algo perigoso porque torna a muitos com postura arrogante, como se fossem superiores aos demais seres humanos.
Ser reconhecido como pessoa é uma das mais elevadas necessidades e quando nos sentimos vistos e incluídos apenas por estar no mundo e ser quem somos é que nos sentimos vivos, entretanto, isso só se transforma em realidade quando você e eu olhamos no espelho e nos reconhecemos a nós mesmos como merecedores e que a oportunidade de viver é um presente ao qual nos é impossível retribuir a não ser passando adiante uma profunda fé na vida, em Deus, em nós e no ser humano… e para isso é preciso curar as feridas da criança interna para que o adulto encontre sua iluminação e seu verdadeiro caminho em direção do continuo auto-aperfeiçoamento, assumindo sua tarefa de ser num mundo cheio de imperfeições e limitações mas que se torna melhor quando cada um de nós evolui conscientemente. (Dr. Aluísio Alves, Terapeuta e Doutor em Educação Médica: atende online, presencial em consultório e grupos terapêuticos. Agende pelo WhatsApp (35)988537100 ou contato@aluisioalves.com.br)