Provavelmente, muitas pessoas nunca ouviram falar de acídia e isso é compreensível visto que é um termo antigo e usado mais entre os estudiosos de tradições espirituais cristãs, porém, este tema se refere a algo que pode afetar a todas as pessoas, independentemente de suas crenças religiosas.

Resolvi desenvolver este breve estudo por sugestão de uma paciente, a quem agradeço e a quem tive a satisfação de tratar de suas dores da alma. Para mim é um tema familiar uma vez que, como os que me conhecem sabem, fui aluno durante muitos anos de escola de formação sacerdotal e, também, anos depois que saí, cursei, por investimento próprio, uma qualificada formação teológica em instituição centenária e isso me permite associar esses valiosos conhecimentos ao meu trabalho em consultório e em grupos terapêuticos.

Gostei imensamente da sugestão desse tema e pude, mentalmente, rever os preciosos ensinamentos vindos de professores espirituais de épocas muito antigas, especialmente, dos anos 300 da Era Cristã até a atualidade. Se alguém quiser receber indicações de leituras ou textos sobre este tema, é só fazer contato que enviarei com satisfação.

Nos tempos atuais, a realidade é que existem muitos confortos e facilidades e boa parte de nós faz bem menos esforços, especialmente físicos, do que nossos antepassados. Isso não é uma crítica, mas, é preciso reconhecer que a palavra mais mencionada pelos jovens da atualidade é tédio. Também os adultos e pessoas mais velhas reclamam de uma sensação de vazio, de falta de ânimo e de uma espécie de cansaço crônico, que, inclusive,  já publiquei texto sobre isso.

A acídia não é a mesma coisa que preguiça porque é um estado terrível que amarra a pessoa de forma a deixá-la prostrada, inerte, sem forças para realizar o que sua cabeça sabe que precisa fazer. Entre o saber o que precisa fazer e o movimento do levantar-se e ir para a ação está um abismo aparentemente intransponível e profundo. A preguiça é um vício também, porém, a acídia envolve muito mais porque ataca a essência da espiritualidade humana.

Preste atenção neste trecho que vou citar:

“A acídia é um vírus que corta as pernas e pouco a pouco vai sugando a energia, até levar a pessoa a uma lenta morte espiritual, por asfixia, por paralisação progressiva, depois de tê-la conduzido aos prazeres mais vulgares e estomacais, e a uma triste depressão espiritual, cheia de insatisfações e de críticas a tudo e a todos. “ (do livro Acídia: vírus que mata o amor, escrito por Gaspar Bertoni)

Como dia dizendo antes, os confortos dos tempos atuais são fortíssimos cenários para tornar as pessoas cansativamente mornas, sem energia e alimentadas por conceitos deturpados por quem lê ou por quem escreve, tais como a visão amena acerca do ócio ou preguiça, da lei do menor esforço e do comodismo. Os estragos na alma são muito grandes e se soma aos fatores que geram tanta depressão, impedem a pessoa de assimilar as exigências das rotinas sem cair na tristeza e na acidez espiritual. Tolerar frustrações, lidar com as coisas que não dão certo tem sido algo muito raro embora a vida real seja exatamente assim cheia de altos e baixos. Muitos não aceitam isso por nada desse mundo!

Dialogo com profissionais da saúde de todas as áreas e a maioria deles concorda que é preciso oferecer uma medicina da alma e do espírito porque muito do que se manifesta no corpo, nas atitudes e nos comportamentos, em geral, tem sua fonte nas doenças que silenciosamente atacam a essência da pessoa  e que nem sempre os medicamentos e as terapias convencionais sozinhos resolvem, é preciso buscar tratamentos mais profundos e, sabemos que, infelizmente, poucos profissionais têm tido a oportunidade de estudar mais tempo e com mais profundidade a natureza humana, portanto, só oferecem o que é raso, sem a profundidade necessária para impactar o espírito e gerar mudanças, afinal, ninguém pode dar o que não tem.

A acídia fazia parte da antiga lista dos 8 defeitos capitais, que, depois, foi reduzida a sete. E porquê são chamados capitais? Porque comandam, capitaneam outros males na vida da pessoa. isso é algo que vai além da simples crença. Ao contrário, é uma realidade porque cada vez mais recebo perguntas, sugestões e pedidos para falar sobre o que poderia “devolver a vontade de viver”…  isso quer dizer muito sobre insatisfações que parecem só aumentar, sobre um azedume que toma conta da vida e do cotidiano, falta de disciplina  e de paciência diária para realizar pequenas ou grandes tarefas, levantar-se da cama, parar de comer em excesso, reclamações de todo tipo, isolamento das pessoas que não conseguem suportar tanto pessimismo e verborragia negativa…

No fundo, é preciso tratar dessa espécie de vírus, conforme fala Gaspar Bertoni, e para isso, é preciso ir além do convencional, buscando ferramentas que consigam alavancar o melhor de cada pessoa porque todo ser – sem exceção –  tem uma força positiva e luminosa dentro de si, mas, para libertar tudo isso que pulsa dentro de toda pessoa que vem a este mundo, é preciso o que chamo de amor operativo, quer dizer, um amor acompanhado de práticas que tenham poder de despertar a consciência espiritual e isso não se faz com blá-blá-blá ou explicações repetidas.  É necessário um amor operativo que desperte o amor curativo que está abafado dentro do que sofre com a acídia, esse veneno que tem alto poder destrutivo. Vamos continuar dialogando sobre isso? Aguardo seus comentários. (Dr. Aluísio Alves, Terapeuta e Doutor em Educação Médica: atende online, presencial em consultório e grupos terapêuticos. Agende pelo WhatsApp (35)988537100 ou contato@aluisioalves.com.br)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *