Talvez a metáfora “tapar o sol com a peneira” seja muito forte nesses tempos de superaquecimento do planeta, porém, parceiros que fingem não ver os problemas presentes em seu relacionamento estão, – cada casal a seu modo -, derretendo as possibilidades de desfrutarem de mais qualidade na vida a dois.
Este estudo não é uma solução mágica para as pessoas que estão enfrentando problemas na vida a dois, mas, apenas e tão somente uma provocação aos que querem olhar de forma séria e comprometida para seu relacionamento. Não me prendo a apenas uma abordagem porque tive e tenho a oportunidade de estudar e praticar maneiras diferentes de atuar com casais e famílias, por isso, fico muito à vontade para convidar a todas as pessoas que desejam buscar soluções para seus relacionamentos de quaisquer orientações a me acompanharem nesta apresentação resumida.
Quero citar, antes de continuar, Pichon-Rivière, argentino que desenvolveu seus estudos a partir de Freud, Melanie Klein, Lewin e Moreno. Seu pensamento e sua prática contribuem muito para o meu entendimento na clínica daquilo que tem a ver com duas questões essenciais na vida familiar, principalmente dos papeis: entregar aos outros o que é seu ou assumir o que é dos outros para si.
Nos vários atendimentos a casais hétero e homoafetivos que faço, a comunicação é o grande desafio porque está estreitamente ligada à questão dos papeis que cada parceiro exerce e da posição psicológica que ocupa no relacionamento. Por ser uma dinâmica muito rápida e sutil, muitas vezes, o casal perde tempo e destrói parte do seu relacionamento porque não percebe que está com os papeis inadequados à vida a dois.
Quem vem da família de origem com o modelo mental de entregar aos outros o que é seu e leva esse mesmo posicionamento psicológico para a vida a dois, certamente vai, “contribuir” para desequilibrar o relacionamento; quem vem de um grupo familiar com o modelo mental de assumir para si o que pertence aos outros e continua nesse padrão na vida a dois, também, promoverá dificuldades e desequilíbrios.
A chave para a estabilidade emocional do casal é o equilíbrio entre o que se entrega com o que se recebe. Quando não existe equilíbrio entre o que dá e o que recebe, os parceiros já entraram num perigoso caminho montanha a baixo…
Se até este ponto do estudo você já identificou algo em seu relacionamento que precisa de atenção, é sinal de que está interessado ou interessada em olhar com mais objetividade para a vida a dois.
A comunicação do casal, como disse, muitas vezes se mistura com os papeis e posições que cada um adquiriu na família de origem e quer continuar exercendo tal papel e posição na vida a dois.
Parceiro que se posiciona como mãe ou pai de menino manhoso para o companheiro, está num papel que não lhe pertence. Parceiro que se posiciona como menina ou menina que só quer receber cuidados e não se dispõe a trocar cuidados e afeto, está fazendo um papel terrivelmente destrutivo da relação. Parceiros que querem ter uma vida a dois sem abrir mão de nenhum aspecto da sua vida social, profissional, financeira ou emocional não deveriam estar num relacionamento porque ainda não estão dispostos a interagir e abrir a vida para o outro entrar, não estão prontos para compartilhar a vida. Parceiros que não têm projetos em comum, ainda que sejam pequenas iniciativas para fazerem juntos, estão empobrecendo suas vidas apenas com o trabalho que lhes dá acesso a coisas materiais. A vida a dois fica mais fluida quando os parceiros constroem algum projeto para realizarem juntos e isso é vai além de apenas ter filhos ou comprar carros e imóveis.
Na questão do grupo familiar, Pichon-Rivière destaca papeis que são exercidos por membros da família, na maioria das vezes de forma inconsciente: o porta-voz, que representa os sentimentos e ideias que circulam em seu grupo familiar por meio da fala e dos comportamentos; o bode expiatório, é a pessoa que recebe e aceita a carga negativa do seu grupo familiar; tem ainda os papeis do silencioso, do líder de mudanças e de resistências e o sintetizador.
O casal que fica negando para si e para quem que seja a existência de dificuldades na comunicação e nos papeis ou posições psicológicas, está tentando “esconder o sol com uma peneira” e, quanto mais tempo ficar na defensiva e entregue ao acaso, sem agir, mais colocará em risco a continuidades da vida a dois porque a qualidade do relacionamento já não vai bem há tempos…
“Tapar o sol com a peneira” é tentar esconder o óbvio, ou seja, que algo não está bem e que a vida a dois precisa ser olhada com maturidade e seriedade. Seriedade que deve ter o casal para não se obrigar a ficar junto em nome de filhos porque estará colocando pesado fardo nos ombros dos descendentes; seriedade para não se separar por conta de dificuldades absolutamente naturais em qualquer tipo de convivência; seriedade para buscar ajuda profissional devidamente capacitada para lhe auxiliar a olhar para as dinâmicas internas e ocultas na sua vida a dois.
Buscar ajuda é essencial porque parceiros que fingem não ver os problemas presentes em seu relacionamento estão, cada casal a seu modo, “tapando o sol com a peneira” e derretendo as possibilidades de terem mais qualidade na vida a dois e, francamente: todo casal merece e precisa resolver suas questões e desfrutar muito mais da existência. (Dr. Aluísio Alves, Terapeuta e Doutor em Educação Médica: atende online, presencial em consultório e grupos terapêuticos. Agende pelo WhatsApp (35)988537100 ou contato@aluisioalves.com.br)