Ontem foi um dia muito especial para mim. Você também, percebe quando seu dia está sendo muito mais positivo do que o comum? Ontem um amigo de longa data e eu conseguimos um tempo para conversar. Ele é um médico cardiologista e grande cirurgião. Estudioso, tem 79 anos e trabalha todos os dias em um grande hospital, realizando uma cirurgia quase todos os dias. Inteligente e perspicaz, é daquelas pessoas destemidas que nos fazem perceber as incoerências e contradições…as nossas, as dos outros e da nossa sociedade. Foi uma ótima conversa sobre filosofia, tradições francesa e alemã, especialmente, e falamos sobre a vida e a morte…e foi um momento para nos atualizarmos sobre o que cada um anda fazendo nesse mundo de meu Deus depois de tanto tempo afastados devido aos nossos trabalhos.
Estou lhe contando isso porque este estudo vai tratar da necessidade das relações interpessoais e do quanto a alteridade, o olhar para o semelhante faz parte de um movimento que nos reconecta conosco mesmos, com nossa alma.
Tenho atendido tantas pessoas que vivem uma solidão muito profunda porque não se dedicaram a cultivar amizades, relacionamentos interpessoais positivos que tornam a vida cheia de significados e sentidos.
Quando desenvolvemos a alteridade, também estamos aprendendo muito sobre a empatia. A empatia, essa qualidade humana tem sido muito distorcida e interpretada de forma absurdamente deformada. Algumas pessoas chamam de empatia a exigência que fazem aos outros para lhes tolerar sua falta de compromisso, sua seriedade com prazos, seu comportamento negligente com suas obrigações, seus contratos ou acordos. Isso não é empatia, é a manipulação do conceito para ganhar ainda mais tempo para enrolar as pessoas e não assumir suas responsabilidades e compromissos. A empatia é essa habilidade incrível de nos colocarmos debaixo da pele do semelhante, mentalmente, e ver o mundo com o olhar dessa pessoa, compreendendo suas dificuldades, demonstrando-lhe amorosidade e compaixão. Empatia nada tem a ver com conivência com comportamentos inadequados como já mencionei aqui.
Cultivar amizades é fundamental. Nem falo em boas ou más amizades porque se é amizade isso só pode ser algo bom, positivo.
Cultivar amizades é sair de si mesmo para ir ao encontro do outro, do diferente, do diverso. Quando a pessoa é muito exigente e só vê as imperfeições das outras pessoas e do mundo, acaba levantando muros muito altos atrás dos quais fica isolada da vida e é ai que a solidão causa os maiores sofrimentos. A amizade e a relação interpessoal são curativas para muitos males, dentre eles a acidez e a amargura. E sempre é tempo para se abrir para construir relacionamentos interpessoais.
O quanto sofrem os familiares que veem os parentes se fecharem sobre si, sobre os problemas e as queixas a respeito de tudo…a saúde mental fica comprometida e as relações ficam difíceis dentro da família. Isso pode ser percebido também nas empresas em que tantas pessoas colocam toda a sua vida no cargo, na profissão e no trabalho. Ao se aposentarem ou mesmo quando saem do emprego passam a viver intensa solidão. Na maioria dos casos que atendo no consultório o que aconteceu foi o fechamento da pessoa para as amizades e relações interpessoais.
Por isso, se você tem dificuldade em construir relações, é importante tratar esse fator que pode estar impedindo sua maior intensidade na vida, sua alegria de estar no mundo e um ótimo aprendizado, afinal, todos nós em nossas amizades, aprendemos e ensinamos. É uma troca positiva para ambos os lados.
Cuidar da saúde mental e emocional passa por você olhar com mais atenção para a posição e a atitude que você tem em relação aos contatos com o mundo das pessoas, com outros humanos. (Aluísio Alves: Psicanalista. Terapeuta Sistêmico e Integrativo. Pós-doutorado em Educação. Doutorado em Educação Médica. Especialista em Administração Hospitalar. MBA Gestão Empresarial. Pós-graduado em Psicologia. Formação em Teologia. Bacharelando em Ciências Biológicas. Pós-graduando em Filosofia Clínica. Escritor)