Ela não me disse com palavras, mas, sua alma gritava algo que traduzi como: “melhor eu ficar doente do que sozinha”. A história dessa mulher a quem tive a honra de atender, já não vive dessa forma, mas, antes, era uma pessoa que amava demais e se colocava em último lugar, por isso, havia adoecido.

Quem olhasse para ela ou a conhecesse, percebia claramente que era super ativa. Academia três vezes por semana, fazia a casa funcionar, acordava a filha e o filho, ambos universitários para as aulas, frequentava regularmente a religião, ajudava nos movimentos de filantropia…trabalhava muito no seu escritório e era bem sucedida, tinha uma reserva financeira, portanto, tudo certo, não é mesmo? Todos achavam isso, que estava tudo certo com ela, principalmente, seus parentes, sendo que alguns, inclusive, viviam de lhe pedir ajuda o tempo todo e ela sempre generosa, ajudava, mesmo que se sacrificasse muito…

Acontece que, repentinamente, ela passou a ter alguns sintomas físicos que a incomodavam muito: dores abdominais, ânsias de vômito, perda de apetite e, alguns episódios de insônia que, para ela, eram coisas estranhas, sempre tivera ótima saúde… dormir, então, sempre fora algo natural, sempre dormia bem… esses sintomas persistiram. Procurou o médico e, após cuidadosos exames, ele lhe disse que não havia nada de errado organicamente e sugeriu que pudesse ser algo de fundo emocional e recomendou que ela procurasse ajuda para resolver isso.

Ela não gostou nada daquilo, principalmente, quando pensava em terapia! “Imagina!”,  ela me disse, “fazer terapia para que se está tudo bem com minha cabeça? Deve ser estresse. Vou é tirar uma semana de férias e isso tudo vai passar…” Não passou e por isso ela estava ali no meu consultório, e logo no início já ficou claro para mim, o quanto ela amava demais, mas, se colocava em último lugar. Tudo o que fazia é para sua família, seus filhos, inclusive, desde que se separara, devido ao marido ter decidido ir viver com outra mulher, nem em relacionamento amoroso pensava mais, considerava isso totalmente fora do seu radar! Mas, ela estava em consulta porque aqueles sintomas físicos continuavam persistentes e mais fortes do que quando começaram.

Pude ajudá-la a ver que aqueles sintomas representavam algumas pessoas da sua família, incluindo alguns antepassados, o pai dos filhos dela e o autoabandono que havia se imposto de forma inconsciente. Em poucas sessões, os sintomas desapareceram, ela fez várias mudanças em seu modo de viver, passou a dar mais atenção às suas coisas da alma, do seu mundo interior, compreendeu que ir à academia era muito pouco porque precisava de se cuidar mais, ter tempo para si e para outros aspectos da sua vida. Era positiva, focada e fez tudo o que precisava fazer porque tinha muita responsabilidade pessoal e isso aumentou suas possibilidades de resultados e foi isso que aconteceu.

Porém, o que a libertou definitivamente durante o processo de tratamento foi trazer à consciência uma terrível falta de autoestima que a levava a se sacrificar demasiadamente pelos filhos e por outros familiares para não se sentir sozinha. Tinha sido um preço  muito alto e sua alma não aceitara isso, e a forma como teve de expressar essa insatisfação foi através daqueles sintomas que a incomodavam tanto.

Alguns meses depois que ganhou alta, me enviou uma mensagem com uma selfie que fez com o namorado e digitou uma legenda mais ou menos assim: “descobri que não preciso adoecer para atrair a atenção e o amor.”

E enquanto conto isso para você, sorrio  e me alegro num nível muito profundo porque o que mais amo é ver as pessoas com histórias parecidas com a dessa mulher se libertarem de tantas armadilhas da mente inconsciente, dos emaranhamentos familiares e voarem para outro estado de vida. É muito bom servir neste Caminho Sagrado! (Aluísio Alves é psicanalista e atua com terapias profundas. Apoia pessoas na solução de suas dores na alma, problemas nos relacionamentos, na orientação de carreira e na superação dos desafios profissionais).

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